I
Sei quem Deus é!
Garanto-vos, mesmo a sério.
Ainda hoje, por volta das três e meia da tarde, tomei café com ele.
Um tipo fantástico.
Estava um sol peculiar e a brisa enchia-me de milímetros a hectáres largos, enormes.
Os meus olhos reviravam-se, sem se mexerem, o meu estômago tornava-se num campo de papoilas, os meus pés, asas de pardal e todo o meu corpo híbrido se tornava nesta máquina sagrada com um coração borboleta, coisa estranha, bater de asas, suspiro, medo e o gigantesco amor ao mesmo medo e na minha língua nada mais do que uma serpente que serpenteando pelas terras de peregrinos, sou assim peregrino sem ter de andar. Sou um profeta sem me vestir com um alto livro sério, respeitável, que cala multidões a que às vezes nomeiam de religião e por isso passo de um profeta para um pofeta porque o R já não me pertence, mas sim a alguém convicto de que casou com Deus. Ora, eu só fui tomar café com Deus, esse tipo fantástico, por isso logo a seguir fujo e foge comigo o F de pofeta.
Ficamos com um poeta.
E que convencido que eu sou, armado em poeta. Não faz mal, nem todas as profissões dão direito a esporádicos cafés com Deus. Uma coisa bonita, uma coisa bela.
II
Que epifanias estas, entre este ram-ram e o verdadeiro sabor dos dias, pergunto-me se já alguém sentiu que a única coisa que interessa é ter a alma à beira-mar plantada, com trinta e tal graus, em julho, sem pôr protector.
Tão parvos, aqueles que não se atrevem a levar as suas almas à praia.
III
Fico tão cru, tão desapaixonado.
Quando te vejo, indo logo a correr a abraçar-te.
Sentindo-te e observando-te, vendo-te como biblioteca de poesia arrombada.
E depois.
Vem, de novo, e outra e outra vez e bate à porta da livraria que fica na rua dos meus lábios até ao meu esófago. E pede, trazendo a tua carteira com notas grandes, aqueles livros que não sabes ler. É tão triste, a falta de alfabetização .
Não passas de circo e televisão.
IV
Acredito mais na Poesia do que em Jesus.
Ela é que é a verdadeira manifestação de Deus na Terra.
V
Fecho os olhos e durmo, neste colchão de versos, lençóis de palavras e sei que irei dormir.
A única cantiga que, de facto, me embala é esta prosa que encanta e até tem alguma piada.
VI
E fecho a merda do caderno, mas Beach House continua a ecoar pelo meu quarto.
São uns pornógrafos XXX para o pessoal necessitado de one night stands com a poesia.
VII
Todos estes cigarros de sentimento deviam ser como esporádicas visitas ao hospital.
Ouvi, anteontem, dizer que há quem morra de tromboses de deasmores, quando os fuma demais...
VIII
Como hei de sobreviver se só ponho comida na mesa, registando estes serões sagrados com entre mim e o nosso Deus. Que vergonha ser paparazzi de celebridades!!
IX
Por hoje, já está, amanhã, não sei, talvez morra, logo se vê. Desde que se enontrem quartos para enfeitar com palavrinhas sobre cómodas, molduras, roupeiros, vai então dar para ficarmos pequeninos, bem pequeninos, sendo os mais belos e grandes monstros do prazer da existência.
Ámen.
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